
No alto do Calvário, entre dois malfeitores, o Filho de Deus foi levantado — não por merecimento de crime algum, mas por desígnio eterno do Pai. Lucas nos apresenta com sobriedade e reverência a crucificação do Senhor da glória. Ali, naquele cenário de horror e escárnio, brilham, paradoxalmente, as mais puras expressões da justiça divina, da misericórdia incomparável e da esperança viva.
Cristo foi crucificado como um malfeitor, embora nenhum mal tivesse cometido. O Justo morreu pelos injustos (1Pe 3.18). Sua oração — “Pai, perdoa-lhes” — revela a intercessão do Sumo Sacerdote, que mesmo em agonia clama por aqueles que o ultrajam. O escárnio das autoridades, soldados e até de um dos crucificados é um retrato da cegueira espiritual que não reconhece o Rei mesmo quando este reina do trono da cruz.
Contudo, no outro malfeitor vemos o milagre da regeneração. Diante da mesma dor, ele teme a Deus, reconhece sua culpa, confessa a inocência de Cristo e clama por misericórdia. E, gloriosa resposta! “Hoje estarás comigo no paraíso.” Nenhuma obra, apenas fé. Nenhum mérito, apenas graça. A salvação não é uma recompensa pelo esforço humano, mas dom gratuito de Deus ao que crê.
Na morte de Jesus, os céus se escurecem, o véu do templo se rasga, e o centurião, um gentio, declara: “Verdadeiramente, este homem era justo.” O véu rasgado anuncia o acesso ao Santo dos Santos, aberto pelo sangue do Cordeiro. O testemunho do centurião antecipa a salvação dos gentios, a quem também foi revelada a justiça de Cristo.
As multidões batem no peito, tomadas por temor e pesar. Mas os discípulos e as mulheres que seguiam Jesus olham de longe, contemplando em silêncio aquele que, morrendo, venceu a morte.
Na cruz, somos chamados a olhar para Jesus como o malfeitor arrependido: conscientes de nossa culpa, crendo em sua justiça e suplicando por sua graça. Lembre-se: o mesmo Cristo que salvou um criminoso nos últimos instantes de sua vida continua poderoso para salvar hoje. Aproxime-se dEle com fé, pois, por sua morte, o caminho ao Pai está aberto. Que vivamos, então, à sombra da cruz, com gratidão, reverência e esperança.